sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Bialys and Patas

Hoje acordei e olhei pela janela, aliás como faço todos os dias. Em cima da casa da bomba da água, estava instalada parte da família canina: o Papotamo, a Truma e a Patas. Ali estavam, esperando pacientemente o momento em que eu espreitasse pela janela e desse os bons dias.
 
 

A Patas estava altivamente instalada em cima da Truma. Para além do quadro ser digno de registo, só por si, vocês não sabem o inédito do mesmo. Quando a Patas chegou cá a casa, a Truma não ficou nada bem-disposta. Encarou a sua vinda como uma grande ofensa e passou semanas amuada, fugindo para o seu canto. Claro está, a Patas não ligou nenhuma a este protesto e decidiu, ao entrar na Quinta, que a Truma seria a sua grande amiga. Podem ver quem levou a melhor nesta história.

E como é que a Patas instalada em cima da Truma me levou até aos bialys. Na verdade, não levou, mas as duas histórias marcaram o dia, e mereciam ser contadas.

Descobri a receita dos bialys no meu livro Artisan Bread. Aquelas rodelinhas de massa com recheio no meio cativaram-me e andava há um bom par de dias para experimentar. Ontem à noite preparei a massa, que guardei no frigorífico e hoje ao jantar, depois de um dia no quintal, dediquei-me a fazer uma sopa de couves, acompanhada com bialys quentinhos do forno.


Estes pãezinhos recheados são uma receita tradicional judia da Polónia. Actualmente, penso que é nos EUA que estes são mais consumidos. Trata-se de um pão ligeiramente adocicado, com uma ligeira depressão no centro, recheada com cebola refogada e sementes de papoila. Podem-se acrescentar outros recheios, mas este é o mais típico. Segui a tradição e também inovei um pouco, colocando em alguns bialys queijo de São Jorge e um pouco do meu molho de tomate italiano.... Hmmm marcharam quase todos, deixando-me numa depressão pós-jantar digna de registo.



Ingredientes:

Massa
3 Copos água morna
1 ½ Colher sopa de fermento padeiro
1 Colher sopa sal
1 ½ Colher sopa açúcar
6 Copos de farinha

Recheio

1 Cebola
2 Colheres de sobremesa de sementes de papoila
Sal
Pimenta

Preparação:
A massa faz-se seguindo o processo do pão em cinco minutos que já publiquei aqui no blog. Depois da massa pronta, fazem-se pequenas bolas do tamanho de um pêssego e achatam-se ligeiramente, deixando levedar por 30 minutos. Entretanto refoga-se a cebola, até ficar translúcida e tempera-se no fim com sal e pimenta a gosto e juntam-se as sementes de papoila. Passada a meia hora, faz-se uma pequena depressão no centro de cada bolinha e recheia-se com uma colher de sopa da cebolada (pode-se colocar outros recheios a gosto). O forno é aquecido previamente a 230º e leva-se os bialys a cozer durante 12 minutos. Este é o tempo que diz na receita, mas os meus cozeram durante 20 minutos. Não deve secar muito, mas a massa tem de ficar bem cozida. E depois já sabem, é só comer.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Bio-trocas por uma sopa de abóbora com alecrim




Feira da Bio-trocas (Gequesta). Forte de São Mateus no dia 14 de Outubro (Foto: Augusto Santos)

Acordei tarde e tinha duas horas para conseguir preparar o meu cesto para a feira da Bio-trocas, no forte da Gê-Questa. Nesse escasso período de tempo tinha de conseguir etiquetar os meus frascos com vinagreiras, aguarelas, cola branca e papel de jornal. Depois de uma correria de bricolagem, fui apanhar uns molhos de ervas aromáticas e recolher sementes de “nabo de todo ano”, para compor a cesta que me acompanhou até à feira.

Quando entrei no portão do forte de São Mateus, a feira biológica, que nos acompanhou durante vários meses aos fins de semanas, já lá não estava. Fugiu para o outro lado da ilha, para o recém-inaugurado “Mercado Biológico”. Em contrapartida, uma diversidade maior de gentes, conversas e produtos distribuía-se por pequenas bancas, onde se expunham preciosidades, trazidas de quintas, quintais e cozinhas. Encontrei couves, caiotas, batata-doce, abóboras, ervas aromáticas, curtumes, marmeladas, plantios de várias espécies, artesanato, requeijão, etc..... Enfim, um pouco de tudo, não esquecendo que na sua maioria eram produções biológicas de pequenos quintais que se encontram espalhados de forma anónima pela ilha. Estendi a minha manta, coloquei os meus parcos produtos e comecei a trocar. Toda gente se sentia feliz, circulávamos uns pelos outros, trocando palavras e produtos, deixando-nos aquecer pelo sol, pela conversa amena e pela leve sensação de que o destino, que se traçava nesse dia para mais quatro anos nos Açores, também se construía ali, como uma semente pequenina, pronta a querer vingar.


Feira da Bio-trocas (Gequesta). Forte de São Mateus no dia 14 de Outubro (Foto: Augusto Santos)
De volta a casa a cesta vinha cheia, mas agora com abóboras, caiotas, batatas-doces, uma plantinha de consolda e requeijão. Foi inspiração suficiente para o que seria o jantar desse Domingo. Sopa de abóbora e salsa com infusão de natas de soja com alecrim, e para acompanhar pão torrado com azeite, alho e requeijão....hmm


Esta sopa, fácil e rápida, é uma delícia. Boa para surpreender os vossos amigos com um sabor doce e aromático. Claro que esta também é uma boa opção para nos mimarmos, a nós e à família, principalmente agora que as noites já vão arrefecendo e um caldo quente é sempre um bálsamo para a alma.

Ingredientes:
*  ½  Abóbora pequena
* 3 Batatas médias (pode substituir por mais caiota ou courgete)
* 1 Caiota
* 1 Cebola média
* 1 Pacote de natas de soja
* 1 Raminho de alecrim
* 1 Raminho de salsa
* Azeite
* Sal
*Pimenta-preta
Preparação:
Colocar azeite no fundo do tacho e saltear todos os legumes, começando com a cebola que, depois de ficar translúcida, se junta aos restantes legumes. Acrescentar água e deixar cozer. Reduzir a puré. Temperar com sal e pimenta juntando a salsa picada, deixando ferver mais um pouco. Num tacho pequeno, à parte, aquecer as natas com o alecrim. No final coar as natas para a sopa e depois é só servir e degustar.



terça-feira, 9 de outubro de 2012

Boas-noites

Boas-noites
Miriabilis jalapa


Chegava o Verão e elas apareciam naquele canto, sempre o mesmo.

Nos fins de tarde, desses dias quentes, depois de uma dose intensa de mar e já com a pele enrugada e os lábios roxos, regressávamos em bando, pela rua acima. Chegados a casa, tirávamos o sal do corpo e comíamos um lanche farto. Findo estas actividades do regresso, lá corria eu, novamente, rua abaixo, até casa do meu avô, onde os meus primos, vindos da Terceira para um Verão no Pico, me esperavam.

As crianças não têm propriamente rituais, há brincadeiras que se fazem, umas mais do que as outras. Com o tempo e com a idade fazemos delas rituais, porque quando as repetimos elas começam a nos ligar a algo precioso... à nossa eterna criança interior.

O ritual hoje, brincadeira de ontem, é feito de boas-noites.


Estavam ali, junto ao muro branco que separava o terreno do meu avô da estrada. E aí, nesse enclave, desabrochavam as boas-noites: brancas, amarelas, cor-de-rosa, matizadas. Flores com os seus pedúnculos em bolinhas, das quais saía um fio quase invisível, que tínhamos de puxar com toda a cautela do mundo para não se romper, como se disso depende-se a vida ou a morte. Após a tarefa cumprida, surgiam, quase por magia, brincos coloridos que prendíamos nas orelhas e fazíamos balouçar com as nossas cabeças alegres e cheias de gargalhadas. Outras eram encaixadas para criar coroas, colares e pulseiras que nos enfeitavam como arco-íris.

 Eram tardes felizes, onde a brincadeira ia terminando à medida que a noite caía e as boas-noites se despediam fechando as suas flores.

Hoje passeava pela Quinta e aqui as boas-noites, como que por um fio de magia, crescem para me ligar a esse passado feliz. Sorri para elas e comecei a colhê-las, primeiro para uns brincos, depois para um colar e mais à frente para uma coroa de flores. Sorri e gargalhei despreocupada, era criança novamente, sentia-me uma princesa no meu reino encantado.
A boas-noites, Miriabilis jalapa, é uma planta introduzida nos Açores para fins ornamentais. Como tantas outras escaparam às mãos dos jardineiros e crescem hoje por aí. É mais fácil de encontrá-las junto às casas e em restos de entulhos, onde a sua ligação ao humano ainda é profunda.

É a Planta da minha terra de hoje, só porque tropecei nela e apeteceu-me ser criança outra vez.

Espécie
Miriabilis jalapa
Nome Comum
Boas-noites
Família
Nyctaginaceae
Naturalidade
Indígena – Endémica dos Açores
Distribuição Açores
Flores
Corvo
Faial
Pico
S.  Jorge
Graciosa
S. Miguel
St. Maria
Colhida em:
Quinta da Vinagreira

domingo, 7 de outubro de 2012

O alimento dos deuses

Se os deuses comessem, certamente o kefir seria um dos seus alimentos.

Este leite coalhado, algo semelhante ao iogurte, que resulta da fermentação do leite pelos grãos de kefir, é um alimento pró biótico. Destrinçando a palavra, biótico quer dizer “vida” e pró quer dizer “a favor”. Ao contrário do antibiótico (anti-vida) que infelizmente é-nos receitado de forma cada vez mais indiscriminada, os pró bióticos são alimentos que contêm um conjunto de microorganismos vivos e quando ingeridos têm um efeito benéfico na flora bacteriana intestinal e, por conseguinte, podem contribuir em muito para a nossa saúde.

Pensa-se que este vem do Norte Cáucaso, onde era utilizado por pastores daquela região. Os grãos de kefir não são, nem mais nem menos, do que uma cidade de organismos vivos. Uma matriz de proteínas e açúcares nos quais vive uma comunidade de bactérias e leveduras em simbiose.


De uma forma geral são passados de mão em mão. É um alimento da partilha. Depois de me ter sido oferecido pela minha amiga Eugénia, eu já o distribuí, ao longo destes meses, por mais uma mão cheia de amigas.






Este feriado, 5 de Outubro, pontuou-se por mais um encontro de kefir. Através de trocas bloguistas acabei conhecendo o rosto de mais um blog terceirense, Foothwithameaning (visitem, vale apena). O kefir serviu de mote para o encontro, ou reencontro, não sei dizer. Foram umas horas de kefir, blogs, comida, compotas e chutneys. Um pouco de tarde bem passada, onde dar significa receber muito mais (obrigada Patrícia).


Eu cá por casa fiz do kefir um dos meus companheiros matinais. E tal como vos havia prometido, hoje trago-o à minha blogosfera.





Podemos consumir o kefir puro, sem mais nada. Embora um pouco ácido (mais que o iogurte natural), eu gosto mesmo assim. Para os mais exigentes com o sabor pode-se transformar em deliciosos batidos. Na maioria dos dias, de forma a ter um pequeno-almoço mais substancial, deixo-me levar pela imaginação e transformo o meu kefir nos mais variados sabores. De uma forma geral, adiciono frutas, alguns verdes, sementes e por vezes especiarias. Todos os dias varia, consoante a inspiração e os ingredientes disponíveis na dispensa e no quintal. O kefir também pode ser utilizado de diversas formas na culinária e a internet está cheia de ideias; queijos, manteigas, pastas, panquecas, etc ...

Contudo, convém sempre lembrar que para se tirar o máximo benefício deste alimento deve-se consumi-lo em cru e não cozinhado.

O bom mesmo é arranjar uns grãos e saber que eles estão ali todos os dias a trabalhar gratuitamente para nós. Torna-se um ritual o mudar o leite, recolher a safra e prepará-la para alimentação saudável de toda a família.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

De manhã é que se começa o dia ...

Acordar não é dos meus melhores momentos do dia. Sim, eu gostaria de despertar com o nascer do sol, mas deu-se o acaso do destino de eu não ser uma dessas pessoas madrugadoras, e ser apenas uma daquelas que sonhava ser.

Contudo, é de manhã que se começa o dia e com ele, sem dúvida, um bom pequeno-almoço. Para que fique claro, não sou uma purista de pequenos-almoços light. Uma versão pantagruélica com a mesa farta, recheada de pães, compotas, queijos, café, sumos e até uns ovos mexidos com bacon deixa-me de olhos em bico e o meu nível de satisfação no mais alto.


Mas também gosto de refeições light e saudáveis. Estas pontuam-me a rotina, enquanto as outras dão o colorido à vida, são as dos dias especiais. Assim, de uma forma geral, e com muitas excepções pelo meio, escolhi dois companheiros para a refeição matinal: os batidos verdes e os batidos de kefir. Hoje falo-vos dos batidos verdes e amanhã virá o kefir.


Os batidos verdes aprendi-os com Avelino. Mestre da agricultura biológica, das ideias inovadoras e um contador de histórias. O poder das folhas, assim ele lhes chama. Convencida pelos seus argumentos imbatíveis de estes serem um shot de saúde, comecei a adicioná-los às minhas refeições ligeiras. Como não tinha, e continuo a não ter, um super copo misturador, ou uma bimby, absolutamente necessário para a versão do Avelino, procurei e encontrei outra receita. Esta de um médico brasileiro que promove a comida crudívora, tem pelo nome leite da terra. Embora um pouco mais trabalhosa, gosto francamente do resultado: um sumo sedoso, adocicado e que escorrega fácil até a ultima gota. Deixo-vos aqui os ingredientes base e um pequeno vídeo onde podem ver passo a passo como se faz.

 
Não se intimidem pelo verde...é bom e faz bem. Experimentem
 
 
Ingredientes:
1 pepino ou 1 courgete
1 maçã
1 cenoura
Folhas verdes (couve, rúcula, agrião, alface, repolho, acelga, etc…) no minímo 3 tipos diferentes,quanto maior a diversidade melhor.
Sementes germinadas (raramente coloco)
Sementes hidratadas de linhaça (ideal hidratar umas 7 horas, durante a noite)

 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

É tempo de conservas


Preparam-se os frutos da estação da abundância para as conservas do Inverno frio. Eu gosto deste ritual, tenho sempre a sensação que me liga a algo muito antigo e de uma sabedoria profunda.

Foi assim este Domingo na quinta. Entre a recolha dos manjericões para o pesto, os tomates verdes para o chutney e as etiquetas para o doce de figo com uva, feito já há umas boas semanas, passei um bom par de horas de roda dos meus frascos. Não descorando das outras tantas que passei a pintar os frascos com a minha vinagreira.

Já agora aproveito a oportunidade para esclarecer que o nome vinagreira, da quinta e do blog, nada tem haver com vinagre. É o nome que se dá na minha terra a um passarinho, esse de peito cor de laranja que está empoleirado no topo da página e que tem tantos nomes como as terras que há em Portugal. Se quiserem saber mais sobre ele sigam por
aqui.

 


 
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