terça-feira, 28 de agosto de 2012

Fruta da época – Tomates recheados

Tomateiro da Quinta Vinagreira em plena produção.
Uma das coisas maravilhosas desta vida é comer os frutos, os legumes e as hortaliças da época. É aí que nos recordamos dos verdadeiros sabores. Hoje com o acesso generalizado aos alimentos, perdemos a noção desse sabor especial que está intimamente ligado à terra e a uma época do ano. Experimentem a comer uma castanha no outono, uma laranja no Inverno, umas favas na Primavera, um tomate no Verão e depois contem-me a diferença.
 

Hoje para o almoço fiz tomates recheados. Uma receita simples e deliciosa. Os tomates que cozinhei foram-me oferecidos pela Dona Paulina das Cinco Ribeiras. Cá na Quinta, apesar das imensas expectativas para a produção deste ano, uma série de azares fizeram deles uma raridade que comemos sempre com um grande ritual, apreciando cada dentada como se fosse o maior tesouro do mundo.

Deixo-vos então esta magnífica receita. Experimentem com a vossa produção caseira ou com alguns bons tomates que percebam que tenham vindo de uma terra sã ou de um bom agricultor.


Tomates recheados da Quinta da Vinagreira.
 Ingredientes:

 - 4 Tomates médios
- 1 Cebola
- 1 Raminho de salsa
- 150 gr de arroz
- Sal
- Azeite

Confecção:

1. Retire as tampas dos tomates e escave os seus interiores, reservando a sua polpa.
2. Pique a cebola, a salsa e o tomate. Tempere o tomate escavado com sal grosso.
3. Cozinhe o arroz temperado com sal. Depois de cozido junte aos restantes ingredientes, preparando, assim, o recheio.

4. Recheie o interior de cada tomate com o recheio e regue com azeite. Cubra com as tampas e leve ao forno por 30 minutos, a 200 graus.

Receita adaptada da Revista Cozinha Vegetariana
 

sábado, 25 de agosto de 2012

Plantas da minha terra - Cabreola

Cabreolas, salsa-burra, cenoura-brava
Daucus carota


Flor de cabreola
 Para começar as crónicas das “Plantas da minha terra” teria de escolher uma planta especial.
A  Daucus carota é conhecida na minha família como cabreola.

Esta flor liga-me à minha avó materna, à avó Perpétua, que embora não tenha conhecido, o seu gosto pelas flores perpetuou-se pelo tempo. As cabreolas eram para ela, uma das suas flores favoritas, tal como para mim. Esta planta representa assim, uma espécie de linhagem feminina da família, que me liga às mulheres que me antecederam num fio que perco no tempo. Por ser tão especial e bonita foi ela que teve as honras de compor o meu bouquet de casamento e é ela que, no fim da Primavera e pelo Verão adiante, decora inúmeros arranjos de flores na Quinta da Vinagreira.


Avó Perpétua, a avó que gostava de flores
 Existem duas subespécies nos Açores: a maritimus e a azoricus. Confesso que não as sei destinguir, embora o lamente, uma vez que a azoricus é uma subespécie endémica dos Açores.
Estas crescem um pouco por todo lado, desde o nível do mar até quase aos 800 metros de altitude. Mas é nas zonas baixas das ilhas que as encontramos em maior abundância, desde os prados costeiros, às bermas dos caminhos, nos terrenos baldios, campos cultivo, pastagens, etc... É difícil não tropeçar em alguma, embora, claro, chame muito mais atenção na sua época de floração, entre Junho e Agosto.


Cabreolas num prado costeiro
Quanto aos usos por terras açorianas não sei de nenhum em particular, mas é provável que o haja. Por outras terras há quem as use de diferentes formas. Para fazer uma espécie de condimento das suas flores ou até café das suas raizes torradas. Como planta medicinal tem uma lista infindável de usos, desde ajudar na digestão, a purificar os rins e o figado, tónico úterino (desaconselhável a grávidas).  Mas, sem dúvida que para a tristeza e depressão um vaso de flores de cabreola é um dos melhores remédios.


Ficha da espécie
Espécie
Daucus carota sbsp azorica Franco
Nome Comum
Cabreola, Salsa-burra
Família
Apiaceae
Naturalidade
Indígena – subsp endémica
Distribuição Açores
Flores
Corvo
Faial
Pico
S.  Jorge
Graciosa
S. Miguel
St. Maria
Colhida em:
Quinta da Vinagreira – São Bartolomeu

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Plantas da minha terra ...


Como sabem, ou talvez não, adoro plantas. Há uma botânica algures escondida dentro de mim. Embora me tenha formado em zoologia, a botânica acabou por ganhar força ao longo dos caminhos da minha vida profissional. A vegetação natural dos Açores sempre me despertou um imenso fascínio. É como se essas plantas indígenas fossem testemunhas de um passado selvagem, de uma proximidade com a fonte, com origem das coisas que há muito perdemos.

Depois existem todas as outras plantas, as que trouxemos ao longo de mais 500 anos de história; umas para comer, outras para ornamentar e outras sem darmos conta. Estas, no nosso clima em que não faz frio nem calor, foram crescendo e procriando, fazendo destas nossas pequenas ilhas um imenso jardim da terra inteira. Há-as da Europa, da América, da Austrália, da Nova Zelândia, do Japão, dos Himalaias, etc., etc... Conhecê-las é dar uma volta ao mundo sem sequer sair de casa. E depois há todo um saber à volta das plantas, dos seus usos, habitats, formas, feitios e da sua magia muito própria. Enfim, é um mundo infindável de possibilidades e tesouros a descobrir.

É com este fascínio que há muitos anos ando a tentar organizar o meu herbário pessoal de plantas dos Açores, mas sabem como é, metem-se sempre outras coisas, outros projectos e a recolha das plantinhas vai ficando renegada no canto dos eternos projectos inacabados. Num dia destes, numa das minhas caminhas pela ilha, tive uma ideia genial: e que tal publicar uma crónica no meu blog com o nome: uma planta por dia. Teria de fotografá-la, colhê-la, herbariá-la e partilhá-la no meu blog. Sabem, é que um compromisso com os outros, mesmo que seja com uma comunidade internética indefinida, mantêm-nos mais fiéis ao objectivo do que de outra forma qualquer.

E assim surgiu a crónica: “Plantas da Minha Terra”. Desisti do formato inicial de uma planta por dia, pois à partida seria condenada ao insucesso: Deixo assim a porta mais aberta para quando a oportunidade surgir e me deparar com uma nova planta ir publicando. Quero conseguir recolher a maioria das espécies de plantas que ocorrem na nossa ilha Terceira, o que ronda à volta de umas 650 espécies. É um desafio de coleccionadora, cada nova planta será menos uma na minha imensa lista, até conseguir, quiçá um dia, com a vossa ajuda, o fim do meu herbário de plantas da minha terra.

Então já sabem: se quiserem partilhar esta viagem comigo fiquem atentos, porque vão desfilar aqui, pela Quinta da Vinagreira, desde as grandes árvores até às ínfimas flores  da ilha Terceira. Espera-se uma foto, o nome científico e comum, e algum texto; não demasiado formatado, que deixo à inspiração do momento e da magia que cada planta tem para nos oferecer.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Artur, Gena, Morgana e Cândida

A saga do Rei Artur chegou ao galinheiro da Quinta da Vinagreira!


A minha mais recente visita à ilha de São Jorge, onde fiquei em casa da minha grande amiga Sissi, rendeu-me 3 galinhas e 1 galo. Na verdade uma das galinhas ficará apenas temporariamente, razão pela qual existe uma nota dissonante no título desta crónica. Sim, porque ninguém se lembra de uma Cândida na lenda do Rei Artur, e de facto não a houve. Esta será a galinha que estará de estadia, ainda incerta, aqui na quinta, até o seu galinheiro definitivo, na casa da minha amiga Cândida, estar pronto (talvez ela lhe mude o nome, ahhaha).

A Quinta da minha amiga Sissi é um paraíso de galinhas. Um enorme terreno por onde se espalham galinhas, galos, pintos, mais galinhas, mais galos e mais pintos...enfim, incontáveis. Havia-lhe pedido se me arranjava algumas, pois nos últimos tempos a vida dos meus galináceos vinagreiros não tem sido nada boa. Este ano já partiram 3: A Gilberta (tia das que agora chegam), a Salomé e a Bianca.


Não queria um galo, sempre o recusei. A ideia de acordar de matina com um despertador não regulável não me animava, mas a Sissi que já há muito tempo andava a ver se me enganava com um, lá apanhou um e disse: acho que é um galo, tu é que sabes se o queres levar ou não. E claro, como sou fraquinha, lá veio o altivo e heróico Artur connosco. Confesso que a inveja também me roeu e ao ver todos aqueles pintos fiquei com vontade de ver crescer umas gerações inteiramente vinagreiras cá por casa.




A Gena, diminutivo que encontramos para Guinevere, é uma galinha simpática, com ar doce, quase toda branca, angelical, diria eu, como convém à amada do rei Artur.

Finalmente a Morgana é a galinha com uma mancha preta no pescoço e na cauda, dando-lhe um ar mais dualista entre o bem o mal, como assenta bem à representante da famosa sacerdotisa e irmã do Rei Artur, para uns a vilã da história, para outros a heroína.

Assim composto o galinheiro e sem Lancelotes para causar entropia, esperam-se sagas infindáveis na Quinta da Vinagreira.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Curtume da Quinta da Vinagreira


Na quinta já começamos a pensar na estação das chuvas e do tempo frio, na estação da escassez para qual é preciso armazenar como a formiga da fábula.
Foi com este espírito que pusemos mãos à obra e fizemos o nosso primeiro curtume (picles) do ano. Aproveitamos algumas coisas que abundavam cá pela horta: cebola, feijão verde, courgetes, recolectamos outras, como o famoso perrexil e ainda compramos uns pimentos que são dos meus ingredientes favoritos no curtume.


O perrexil é a base do nosso curtume, seguindo a tradição que aprendi na casa materna. Colhemos uma boa quantidade nas costas rochosas dos Biscoitos, onde cresce com abundância. Para quem não sabe o que é o perrexil (Crithmum maritimum) este é uma planta natural dos Açores que cresce junto ao mar, em costas rochosas. Possui uma cor verde pálido, de folhas ligeiramente carnudas e com um paladar que lhe é muito característico. As flores fazem lembrar as da salsa, isto porque é da mesma família, mas destinguem-se bem pela sua coloração e pelo seu aspecto mais compacto e carnudo.
Aspecto geral do perrexil. Foto de Álvaro Areias, retirada do Portal da Biodiversidade
http://www.azoresbioportal.angra.uac.pt/index.php?lang=pt.
De resto deixo-vos as fotos do momento e a ansiedade de abrir o primeiro frasco que será no minímo só daqui um mês.
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