Miriabilis jalapa
Nos fins de tarde, desses dias quentes, depois de uma dose intensa de mar e já com a pele enrugada e os lábios roxos, regressávamos em bando, pela rua acima. Chegados a casa, tirávamos o sal do corpo e comíamos um lanche farto. Findo estas actividades do regresso, lá corria eu, novamente, rua abaixo, até casa do meu avô, onde os meus primos, vindos da Terceira para um Verão no Pico, me esperavam.
As crianças não têm propriamente rituais, há brincadeiras que se fazem, umas mais do que as outras. Com o tempo e com a idade fazemos delas rituais, porque quando as repetimos elas começam a nos ligar a algo precioso... à nossa eterna criança interior.
O ritual hoje, brincadeira de ontem, é feito de boas-noites.
Estavam ali, junto ao muro branco que separava o terreno do meu avô
da estrada. E aí, nesse enclave, desabrochavam as boas-noites: brancas, amarelas, cor-de-rosa, matizadas. Flores com os seus
pedúnculos em bolinhas, das quais saía um fio quase invisível, que tínhamos de
puxar com toda a cautela do mundo para não se romper, como se disso depende-se
a vida ou a morte. Após a tarefa cumprida, surgiam, quase por magia, brincos
coloridos que prendíamos nas orelhas e fazíamos balouçar com as nossas cabeças
alegres e cheias de gargalhadas. Outras eram encaixadas para criar coroas,
colares e pulseiras que nos enfeitavam como arco-íris.
Hoje passeava pela Quinta e aqui as boas-noites, como que por um fio de magia,
crescem para me ligar a esse passado feliz. Sorri para elas e comecei a
colhê-las, primeiro para uns brincos, depois para um colar e mais à frente para
uma coroa de flores. Sorri e gargalhei despreocupada, era criança novamente,
sentia-me uma princesa no meu reino encantado.
A boas-noites, Miriabilis jalapa,
é uma planta introduzida nos Açores para fins ornamentais. Como tantas outras
escaparam às mãos dos jardineiros e crescem hoje por aí. É mais fácil de
encontrá-las junto às casas e em restos de entulhos, onde a sua ligação ao
humano ainda é profunda.
É a Planta da minha terra de hoje, só porque tropecei nela e apeteceu-me ser
criança outra vez.
Espécie
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Miriabilis jalapa
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Nome Comum
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Boas-noites
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Família
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Nyctaginaceae
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Naturalidade
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Indígena – Endémica dos Açores
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Distribuição Açores
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Flores
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Corvo
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Faial
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Pico
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S. Jorge
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Graciosa
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S.
Miguel
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St.
Maria
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Colhida em:
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Quinta da Vinagreira
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Vim cá desejar-te as boas-noites!
ResponderEliminarQue lindas que são!
Adorei o texto do post e as memórias associadas a ele. A vida é assim feita de doces momentos, mas a sabedoria está em ter a capacidade de saber vê-los e apreciá-los. Os mais relevantes costumam estar ali ao nosso lado e infelizmente muitas vezes não damos por eles (lá está a mulher de mais idade a falar:))) Estou mesmo a ficar velhota!
beijinhos
P.S. Descobri que por aqui também vejo várias vinagreiras, de manhazinha cedo e ao fim da tarde. Pelo menos penso que o serão, apesar de o peito não ser muito alaranjado. (deve ser influências dos teus rótulos de compotas ;)
Sim acredito que tenhas vinagreiras por aí, na verdade andam por todo o lado, mas escapam frequentemente aos olhares humanos desatentos.
EliminarAs Boas Noites também me fazem viajar à minha infância nas noites de Verão em casa de meus pais. Não com tantas lembranças felizes, mas assim foi a minha infância feita de momentos amargos e doces, tristes e felizes e que fazem de mim a pessoa que sou hoje!
ResponderEliminarHoje tenho no meu jardim, mesmo à entrada de casa, alguns pés de Boas Noites, de sementes colhidas na ilha das Flores. De onde as colhi nasciam flores de um lindo matizado de cores rosa, amarelo e branco, como se de obra d'arte de fadas de jardim se tratasse!
No meu jardim, apenas crescem flores de rosa forte, para mim a cor de Amor intenso e incondicional! E com elas me alegro pelo caminho percorrido desde a infância em casa de meus pais até aos dias de hoje!
Porém e por certo, irei fazer com estas, os brincos e coroas que aqui falas e viver hoje o que a minha criança não viveu! Obrigada Vinagreira! <3
Ainda fazemos um festival de boas-noites um dia destes :)
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